BRASÍLIA
– Após semanas de desavenças, o presidente Jair Bolsonaro
demitiu o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta,
nesta quinta-feira, 16. O oncologista Nelson Teich vai
assumir o cargo. Mandetta confirmou a saída pelas redes sociais. Teich
se reuniu com o presidente pela manhã, quando, segundo interlocutores do
presidente, causou boa impressão.
O médico
foi consultor da área de saúde na campanha de Jair Bolsonaro,
em 2018, e é fundador do Instituto COI, que realiza pesquisas sobre câncer.
Teich teve o apoio da classe médica e contou a seu favor a boa relação com
empresários do setor da saúde. O argumento pró-Teich no Ministério da Saúde é o
de que ele trará dados para destravar debates “politizados” sobre a covid-19.
Em artigo publicado no dia
3 de abril em sua página no LinkedIn, o escolhido para a Saúde critica a
discussão polarizada entre a saúde e a economia. “Esse tipo de problema é
desastroso porque trata estratégias complementares e sinérgicas como se fossem
antagônicas. A situação foi conduzida de uma forma inadequada, como se
tivéssemos que fazer escolhas entre pessoas e dinheiro, entre pacientes e
empresas, entre o bem e o mal”, afirma ele no texto.
Desde o início da crise do
coronavírus, Mandetta e presidente vinham se desentendendo sobre a melhor
estratégia de combate à doença. Enquanto Bolsonaro defende flexibilizar medidas
como fechamento de escolas e do comércio para mitigar os efeitos na economia do
País, permitindo que jovens voltem ao trabalho, o agora ex-ministro manteve a
orientação da pasta para as pessoas ficarem em casa. A recomendação do titular
da Saúde segue o que dizem especialistas e a Organização Mundial de Saúde
(OMS), que que consideram o isolamento social a forma mais eficaz de se evitar
a propagação do vírus.
Os dois também divergiram sobre o uso da cloroquina em pacientes
da covid-19. Bolsonaro é um entusiasta do medicamento indicado para tratar a
malária, mas que tem apresentado resultados promissores contra o coronavírus.
Mandetta, por sua vez, sempre pediu cautela na prescrição do remédio, uma vez
que ainda não há pesquisas conclusivas que comprovem sua eficácia contra o
vírus
As últimas atitudes do ex-auxiliar elevaram a temperatura do
confronto e, na visão de auxiliares, o estopim da nova crise foi a entrevista
dada por Mandetta ao programa Fantástico, da Rede Globo, na noite de domingo. O
tom adotado pelo ministro foi considerado por militares do governo e até mesmo
por secretários estaduais da Saúde como uma “provocação” ao presidente.
Auxiliares do presidente observam que Bolsonaro só não dispensou o
ministro antes porque fazia um cálculo pragmático. Interlocutores dos dois
lados afirmavam que tanto Mandetta como Bolsonaro estavam calculando a melhor
forma de troca no ministério. Ambos queriam fugir do ônus da mudança de comando
da saúde em plena covid-19.
Saúde. Sem citar o nome do oncologista Teich, que havia se
reunido mais cedo com Bolsonaro, Mandetta afirmou que o então candidato à sua
vaga é bom pesquisador, mas não conhece o SUS.
FONTE: O ESTADÃO
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